São Quase 1000km de Pura Peregrinação

São Quase 1000km de Pura Peregrinação

sábado

25/06 - Depois da Decisão, Os Preparativos


Consciente da inconformidade da minha própria natureza, a busca acaba arremetendo-me a essa viagem.

A única coisa que sei é que algo – de radical – precisava ser feito. Se não bastassem os problemas insolúveis que convivo e que me impedem de viver, ainda freme dentro de mim a eterna busca pelo crescimento pessoal.

Os preparativos continuam... Faltando agora menos de 12 dias, tenho a passagem confirmada, passaporte renovado, já tirei a minha “Credencial de Peregrino”, já foram comprados os acessórios básicos para a viagem, e quanto ao condicionamento físico, já dei início há algumas semanas atrás.

Em um parque, no parque do Piquerí, venho tentando simular um dia (apenas um dia) dessa longa caminhada que terei pela frente, porém, tenho que confessar: não será nada fácil.

Pesquisando na internet, descobri que estatisticamente, cerca de 10% a 15% dos que iniciam essa jornada, chegam ao seu final.

Eu me “SUPERESTIMEI”!Por estar habituado a correr nos finais de semana, por não ter problemas de sobrepeso, por dispor de estereótipo que se coaduna com esse tipo de atividade, imaginei que poderia fazer essa caminhada tranquilamente.

Tenho que confessar: com a mochila nas costas, ainda não consegui simular – sequer – um dia inteiro do que terei que andar por 32 dias.

Em meus ensaios, depois de caminhar cerca de 15km com o peso que terei que carregar, minhas articulações começaram literalmente a queimar. A sola dos pés tornaram-se gradativamente sensíveis, indicando de forma sistemática que, caso eu não parasse de caminhar, bolhas surgiriam automaticamente.

O que me consola, é o fato de estar tomando conhecimento de tudo isso antes de colocar os pés em Roncesvalles, início da caminhada.

mtrozidio

12/07 - Mais Um Dia de Preparativos

Agora faltando oito dias, sinto que a minha condição física está melhor. Logo pela manhã, percorri 25 km com a mochila nas costas.

Tenho que admitir: não é nada fácil.Eu estava habituado a correr, sem ter nenhum peso adicional. Carregar algo nas costa, no entanto, implica numa acentuada diferença. Começa com o nosso centro de equilíbrio. Quando se tem uma mochila nas costas, tendemos a arquear o corpo um pouco para frente, devido ao peso.

Essa nova postura, força outros músculos que até então não eram usados, o acaba proporcionando a queimação que sinto.

Mas, tudo isso embora seja para mim novidade, era de certa forma previsível.

Quanto à expectativa, ela continua crescente. De fato, saber que posso estar mudando a minha vida não são todos os dias que isso acontece.

Amanhã, vou submeter-me há mais exercícios, simulações e pretendo fazer 30 km.

13/07 - A Expectativa

Ainda com os olhos fechados, desperto nesta segunda-feira, sentindo levemente dores no corpo devido ao esforço físico de ontem, me preparando para a viagem.

Mais do que nunca, minha mente entrega-se a um verdadeiro turbilhão de pensamentos, devaneios e expectativas relacionados a praticamente toda minha vida.

Esta noite, sonhei que estava resolvendo uma antiga questão, uma promessa que fiz há mais de vinte anos atrás e que ainda me causa muita, muita dor.

Mesmo sem ter colocado os pés no Caminho de Santiago, o meu coração se enche de fé, de esperança de que realmente eu possa resolver não somente esta questão, como muitas outras que me impedem de viver.

18/07 - Embarcando Para Madri

18 de Julho - Embarque no Aeroporto Internacional de Guarulhos, partindo exatamente às 15hs55min de uma tarde com o tempo fechado...

Depois de quatro horas de vôo, em absoluto silêncio, eu não sei explicar, mas uma tristeza invade o meu peito, uma tristeza como nunca senti antes. Penso por um momento em tudo que deixei, penso nos meus problemas, nas minhas dúvidas...

Penso em como estarei depois dessa viagem...

Penso em como voltarei para o Brasil...

Entre momentos de sono e de vigília, percebo que já estou voando há nove horas. Precisamente às 01hs10min (horário Brasil) através da pequena janela, eu posso ver ainda o céu escuro mostrando nitidamente todas as suas estrelas.

Porém, um pouco mais abaixo, um azul mais claro se mistura no horizonte seguido de um amarelo, depois o tom laranja e finalmente um vermelho fogo como eu nunca tinha visto...

É um novo dia nascendo em Madri.

Um espetáculo que só pode ser visto assim, de cima das nuvens, uma visão que o meu coração certamente jamais esquecerá.

Aqui de cima, enquanto está escuro, enquanto o avião inicia o processo de descida, eu posso ver pequenos agrupamentos de luzes, como se fossem pequenas ilhas, isoladas umas das outras.

Agora chegando cada vez mais perto do chão, e com o dia começando a clarear, percebo que são vilarejos, ás vezes pequenas empresas. Quando finalmente o avião toca o solo de Madri.

19/07 - Chega em Madri

De imediato, fico impressionado com o tamanho do aeroporto. Para poder me deslocar do local do desembarque, até o Portão K onde eu devo tomar outra aeronave até Pamplona, eu tive que tomar um trem.

É isso mesmo, uma espécie de pequeno Metrô que percorre o aeroporto levando passageiros de um determinado ponto a outro.

Além do trenzinho, em cada saguão possui esteiras rolantes, devido à enorme distância de um local para o outro. Como eu disse: Impressionante!

Já na imigração, os policiais encarregados por esse trabalho dificultam mesmo. Tive que tirar a caneta que estava presa à gola da camiseta, relógio, moedas...

Tive que tirar o cinto, e por último, para que a maldita máquina parasse de apitar, eu tive que tirar as botas, pois os ilhoses por onde passam os cordões, estavam disparando a escandalosa campainha.

Na bagagem de mão, não basta passar pelo RX, temos que tirar tudo de dentro das maletas e colocar em bandejas. Eu vi até absorvente feminino entrando e saindo do RX da imigração...
Achei um pouco de exagero...

19/07 - Embarcando Para Pamplona

Agora, às 09hs20min, já no Portão K, embarco em um pequeno monomotor com destino a cidade de Pamplona.

O cenário, lá de cima, não diferencia muito do território Espanhol visto antes. A visão de uma terra seca, árida, mostra nitidamente a grande dificuldade que os agricultores devem encontrar para o cultivo...

As poucas e pequenas plantações mostram um verde triste, escuro, quase cinza. Chegando um pouco mais próximo de Pamplona, as montanhas começam a surgir no cenário e em seus encapes, os cata ventos enfileirados aparecem provocando um contraste com o desenho da natureza.

Agora sim, o verde começa a ganhar mais vida. É o Norte da Espanha cada vez mais vivo...

Finalmente, depois de chacoalhar um pouco, o pequeno e valente bimotor bate com suas rodas no solo de Pamplona, em um minúsculo aeroporto, mas tão bem cuidado como tudo que vi até agora. A minha tristeza continua...

De certa forma, conviver com esse sentimento não é nenhuma novidade, mas desta vez eu ainda não sei explicar, é diferente...

19/07 - Partindo Para Roncesvalles/ Saint Jean

Desço em Pamplona, em um pequeno aeroporto.

Lá fora, pego um táxi até Roncesvalles. O motorista de nome Ivã, um rapaz muito simpático e falante, percorreu os quase cinqüenta quilômetros me questionando sobre o Brasil e os motivos que me levaram a fazer o caminho.

Embora nascido aqui, Ivã ainda não percorreu o caminho de Santiago, mesmo porque, talvez já conheça todas as cidades que envolvem o percurso.

Depois de uma estrada sinuosa por uma espécie de serra, e de cruzarmos com vários e vários peregrinos fazendo o caminho contrário ao nosso, que amanhã estarei fazendo, chegamos à divisa com a França, em Roncesvalles. Simplesmente linda!

19/07 - Chegada em Roncesvalles

Fui conhecer o Caminho entre Roncesvalles e Saint Jean Pied de Port...
É impressionante o clima. Não estou me referindo à temperatura...
O clima, a energia que parece emanar de todos os cantos...

19/07 – Saint Jean Pied de Port

A encantadora cidadezinha de Saint Jean Pied de Port..


19/07 - Chegada em Roncesvalles

Toda sua arquitetura mostra um toque medieval que insiste em não morrer com o tempo.

Conheci a associação dos peregrinos de Roncesvalles e carimbei – a minha credencial.

Agora à tarde, fui ver de perto, ao vivo e a cores, o local onde inicia a caminhada. Depois de uma placa de bem vindo, segue escrito que Santiago nos aguarda em sua igreja, à quase oitocentas km daqui. Amanhã, literalmente eu ponho o pé na estrada.



1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri – 24 km

1° - Dia Roncesvalles – Início da caminhada – 05h30min. Ainda está escuro e muito, muito frio.

Depois de um banho bem quente para despertar, tomei um pouco de leite, que a Senhora Marinez – gerente do Hostal Roncesvalles solicitou que fosse entregue no meu quarto, uma vez que lá – no Hostal – o café da manhã só seria servido depois das 08hs00min, muito tarde para um peregrino...

Com tudo pronto, preparado, me desloquei até o ponto de partida. Enquanto caminhava para colocar os meus pés pela primeira vez no Caminho de Santiago, alguma coisa começou a me incomodar.

Atravessei a estrada e parei enfrente a placa onde esta o aviso do início da caminhada...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri – 24 km

Um começo para uma Nova Vida...

Olhei aquela placa não sei por quantos minutos. Aos poucos aquela sensação que eu vinha sentindo começou a ganhar mais e mais proporção dentro de mim.

Sinceramente eu não sabia dizer se era algo bom ou ruim. Muito forte, sim, e, crescente. Depois de mais algum tempo, levantei o meu pé direito e coloquei-o no Caminho de Santiago de Compostela.

Comecei a dar os primeiros passos. Minha garganta foi apertando cada vez mais, e mais, enquanto eu lentamente caminhava, Meu Deus – a ficha começou a cair.

Eu estava andando na trilha, no CAMINHO DE SANTIAGO.Eu não pude segurar mais... Enquanto caminhava com o ar gelado de 6 graus queimando o meu rosto, as lágrimas começaram a rolar ininterruptamente, chegando ao ponto de até soluçar.

Infelizmente, eu jamais conseguirei descrever esse momento. Talvez outro peregrino possa entender. Mas, num esforço descomunal para tentar explicar eu posso dizer que hoje, 20 de Julho de 2009 – às 05hs45min (horário da Espanha) eu dividi a minha vida em duas partes significativas.

Uma vida antes desse momento, a outra, uma vida depois do Caminho de Santiago.Com certeza, com absoluta certeza eu criei hoje essa tênue linha divisória que contará – há partir de agora, duas histórias diferentes...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri – 24 km

Ainda com a pouca luz, tentei desesperadamente registrar esse momento, tirando fotos que, obviamente não saíram.

O início do caminho passa por uma trilha paralela a estrada e vai se embrenhando no meio da serra até um ponto onde já não ouvimos mais os carros.

Desse ponto em diante, o som da Mãe Natureza começa a falar mais e mais alto, como que abençoando nós, os peregrinos de Santiago...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri – 24 km

Depois de mais ou menos duas horas caminhando, começamos a encontrar pela frente pequenos vilarejos, pequenos, porém artesanalmente construído há séculos, como as fotos tentam mostrar.

Não sei precisar quantos vilarejos atravessei. Sem dúvida, cada um mais lindo do que o outro, até começar a subir a serra. Uma subida íngreme, com o solo composto só de pedras e mais pedras (também tento mostrar isso nas fotos)...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri – 24 km

Depois de sair em jejum, nada mais gratificante do que colocar algo no estômago.

Afinal, o esforço sem alimentação não combinam...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

Não foi fácil. Todos os peregrinos que haviam passado por mim, andando num ritmo mais forte que o meu, agora estavam sentados à sombra, pois a temperatura aos poucos saiu dos 6° e por volta das dez horas, já estava quase nos 30 graus.

Sem suas botas, todos massageavam delicadamente os seus pés...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

O que me prendia a atenção, a cada momento, é que o terreno mostrava-se ainda pior.

O tamanho das pedras parece aumentar. Degraus formados por elas, cada vez ficavam mais altos.

Não é confortável dar um pulo para cima ou para baixo, com uma mochila de quase 10 kg nas costas...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

O caminho não se mostra nada fácil. Descer com pedras soltas, com dez quilos nas costas, é sem dúvida um exercício de equilíbrio...


1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km





A Beleza do Caminho é algo indescritível. Você pode ver as imagens registradas, mas não pode sentir o clima, a energia que parece emergir de todos os lados...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

Eu tive que parar. Os meus tornozelos, devido às constantes torções provenientes das pedras, estavam literalmente pegando fogo.

Depois de quase cinco horas caminhando, eu tive que parar e recompor – pelo menos um pouco o meu corpo.

De volta ao caminho, não demorou mais do que 30 minutos e comecei a descer.

Desde que comecei a subida, os vilarejos não mais apareceram. Isso para mim não era bom.

Pois, em quase todo vilarejo, tínhamos pequenos bares, aqueles onde as mesinhas e cadeiras ficam do lado de fora, onde, por exemplo, tomei o meu café da manhã, e onde agora eu precisava comprar água...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

A beleza do Caminho continua me envolvendo a cada novo passo.

Impressionante com um lugar pode enfeitiçar tanto um homem...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

A única bica que encontrei pelo caminho foi há mais de 16 km atrás. Nem me preocupei, pois estava com as minhas duas garrafas cheias.

Mas agora, a água tinha terminado e eu, obviamente não sabia por quanto tempo ainda teria que caminhar...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

Uma homenagem póstuma para um peregrino Japonês, falecido neste local...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

E finalmente, Zubiri está logo à frente...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

Entrando na pequenina cidade de Zubiri...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

Entrando na pequenina cidade de Zubiri...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

A descida da serra levou mais uma hora e meia, até que o CONCEJO DE ZUBIRI começou a surgir diante dos meus olhos.

Impressionante, o pequeno vilarejo começa exatamente quando termina a descida do Caminho. Aliás, a entrada do vilarejo ainda é em descida.

Aqui em Zubiri quase todas as construções são em pedra e muito, muito antigas...

1° dia - 20/07 - De Roncesvalles Para Zubiri - 24 km

Como é praticamente impossível seguir até Pamplona ainda hoje, tenho que ficar aqui, ou melhor, por aqui, uma vez que todas as pousadas e hotéis locais estão lotados.

Tive que andar mais 7 km até o belo vilarejo de Eugi, onde pernoitarei no QUINTO REAL, de frente para uma enorme represa, um cenário magnífico onde eu poderia ficar escrevendo por dias consecutivos.

Amanhã, às 06hs30min pretendo retomar o caminho, dessa vez até Pamplona uma cidade bem maior que fica exatos 27 km daqui...



2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona – 27 km

Eram exatamente 06hs30min quando comecei o meu segundo dia de caminhada.

Confesso que ainda sentia dores relacionadas ao dia anterior. Aliás, quando levantei hoje, parecia que o meu corpo inteiro estava travado.

Mas, com o início dos movimentos, parece que ele vai se lubrificando lentamente.

Como pode ser visto, ainda estava escuro. Temos que fazer isso, mesmo com a temperatura entre oito e nove graus. Mais tarde, quando o sol brilhar forte, a temperatura passa dos 35 graus. Aí a coisa fica um pouco mais complicada...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Aos poucos, posso perceber que o ritmo dos meus pensamentos está diminuindo.

Talvez o fato de estar mais um dia longe de tudo que deixei lá no Brasil, esteja lentamente me desprendendo um pouco ou talvez o esforço físico empregado.

Não sei! Também acredito ser muito cedo ainda para poder precisar...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Rumo à Santiago de Compostela, nós andamos pelos mais variados tipos de caminhos.

Partimos de um vilarejo, entramos em trilhas, passamos por estradas, atravessamos córregos, subimos escadas de pedras, descemos rampas...

Também em mais de 850 km teria que ter de tudo mesmo...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Sem dúvida, o que mais encontramos durante o percurso são as trilhas.

Nelas, sinto mergulhar no ceio da Mãe Natureza e com essa imersão, aos poucos, descendo cada vez mais para dentro de mim mesmo.

Eu sei, estou apenas no 2° dia, mais coisas ainda certamente me esperam...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Muitos, muitos vilarejos pelo caminho nos fazem jurar que poderíamos viver aqui o restante de nossas vidas.

As casas parecem um sonho, ou que foram construídas para um filme ou coisa assim.

O que mais me impressiona é a limpeza nas ruas.

A única sujeira que vemos - se é que posso chamar de sujeira - são as pétalas das flores plantadas nas varandas de todas, todas as casas...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Eu nunca poderia imaginar que existisse um vilarejo, um lugar com uma atmosfera tão incrível como encontrei em Ilarratz.

Logo que entrei por entre sua vila de casas, senti uma energia diferente, especial.É normal, nós peregrinos, sermos saudados com um "Olá" - "Buen Camino" quando cruzamos com moradores locais.

Mas, não sei por que, um senhor me chamou atenção, demonstrando nitidamente querer falar. Resumindo: fiquei vinte minutos conversando com o Senhor Ramirez, natural de Pamplona, mas que se mudou para Ilarratz quando decidiu que não deveria mais trabalhar...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Durante o percurso que atravessa de um vilarejo para outro, passamos por muitas pastagens.

É muito comum encontrarmos portilholas como essa, e com esse tipo de aviso: "CIERREN EL PORTILLO".

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

O caminho entre Zubiri à Pamplona, praticamente acompanha esse riacho visto aí atrás.

Quando não o vemos, escutamos a sua voz dizendo: força, determinação, seja flexível como a água que chega aonde deseja se desviando de todos os obstáculos...

Eu juro: foi o que o riacho me disse o tempo todo. (veja mais fotos abaixo)

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Os primeiros sinais de Pamplona começavam aparecer.

A essa altura, as dores já se espalhavam por todo o corpo.

O prazer de caminhar, desse momento em diante, passa a ser a determinação de chegar.

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Depois de 52 km percorridos, sinceramente, preocupa saber que Santiago está a mais de 760 km ainda.

Melhor mesmo é não pensar nisso e continuar ouvindo o que o riacho me disse por quase toda manhã.

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Quando eu digo que o caminho não é fácil, não estou fazendo demagogia. Vejam a descida e quantidade de pedras.

Quando estamos caminhando por toda a manhã, com um peso extra nas costas e o corpo a essa altura todo dolorido, todo o cuidado é pouco.

Não temo me machucar ou coisa assim. Todo o meu medo é acabar com a minha viagem em questão de segundos.

Os colegas que fazem o Caminho de bicicleta, muitas e muitas vezes não conseguem subir ou descer pedalando...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

Finalmente - depois de 27 km desde Euji - Pamplona começa a surgir...

2° dia - 21/07 - De Zubiri Para Pamplona - 27 km

E aí está Pamplona a cidade de "La Carrera de Toros".

Tem uma coisa que lentamente está me preocupando. Desde que cheguei à Espanha, eu me senti muito, muito a vontade, mais do que deveria - reconheço.

Agora aqui em Pamplona, a maior cidade que estive até agora, ainda há pouco quando fui comprar aparelho para me barbear, essa sensação foi maior ainda... O que será isso?

Bom, amanhã tenho que caminhar até PONTE DE LA REINA, aproximadamente 27 km...

Agradecimento

Aqui, em outro continente, cansado e sozinho, quero agradecer a força que vocês estão me dando.

Saibam, isso para mim é imprescindível.

Estou vivendo um momento, onde a minha sensibilidade vem numa crescente dia após dia.

Com ela, o pensamento em todos vocês é também proporcionalmente maior.

Obrigado meus amigos pelas mensagens de força, pois sem receio de falar, eu preciso mesmo e muito de vocês...

Um forte abraço a todos,
mtrozidio

3° dia - 22/07 - De Pamplona Para Puente de la Reina - 26 km

Pamplona ainda dormia quando sai às 05hs30min.

Mas eu sabia previamente que hoje o dia não seria nada fácil.

As informações que tinha eram de que hoje, para chegar à Punte de La Renha, eu teria que subir uma serra, andar um bom percurso sobre ela e depois descer.

Com receio do sol dificultar essa jornada, mais uma vez optei por sair bem cedo.

3° dia - 22/07 - De Pamplona Para Puente de la Reina - 26 km

Ainda andando pela cidade sonolenta, é preciso ficar atento aos sinais.

Observem na construção o conhecido sinal do Caminho de Santiago. Sem estes sinais eu não teria nem chegado até aqui.

3° dia - 22/07 - De Pamplona Para Puente de la Reina - 26 km

Pamplona se despedindo dos peregrinos, desejando um Buen Camino...

3° dia - 22/07 - De Pamplona Para Puente de la Reina - 26 km

Ficamos felizes quando encontramos os sinais que guiam o peregrino. Isso significa que estamos no caminho certo...

Refletindo perguntei a mim mesmo: E quanto a minha vida pessoal, profissional, social... Eu também fico atendo aos sinais?

Eu acredito que são ensinamentos assim que o caminho nos provoca. Passei boa parte da manhã pensando sobre isso.

A conclusão que cheguei: tenho que levar a vida mais a sério, saber exatamente onde quero chegar em cada área e ficar atento aos sinais.

Caso contrário, continuarei perdido - ao sabor do vendo...